DOI: 10.1590/S0100-72032010000300003 - volume 32 - Março 2010
Beatriz Maykot Kuerten Gil, Eduardo de Souza, Carlos Alberto Justo da Silva, Cláudia Pinto Figueiredo
Introdução
Em várias situações obstétricas, sobretudo naquelas conhecidas como gestações de alto risco, nas quais existem condições clínicas adversas em que o nascimento do feto antes do termo pode representar a necessidade de intervenção terapêutica imperativa e valiosa1,2. O risco do parto prematuro constitui um dos maiores desafios na prática obstétrica, e o conhecimento da maturidade pulmonar fetal torna-se de vital importância, visto que a Síndrome do Desconforto Respiratório (SDR) é uma das principais causas de morbimortalidade neonatal1-5.
A presença dos fosfolipídios, lecitina, esfingomielina, fosfatidilinositol, fosfatidilglicerol e outras substâncias no líquido amniótico (LA), além da demonstração de que os mesmos eram provenientes do pulmão fetal, direcionou as pesquisas para a predição da maturidade pulmonar fetal1,3,6.
O pulmão fetal inicia seu desenvolvimento por volta da terceira semana de vida e, próximo da 24ª semana de gestação, algumas células que revestem os ácinos diferenciam-se em pneumócitos do tipo I e II. O pneumócito do tipo I é uma célula com funções principalmente relacionadas ao revestimento alveolar. Já o pneumócito do tipo II é célula rica em corpos lamelares (CL), que são estruturas intracelulares com 1 a 5 µ de diâmetro, ricas em lipídios e que armazenam as substâncias surfactantes. As substâncias surfactantes são observadas entre a 24ª e a 26ª semana gestacional, sendo que ao final deste período o pulmão fetal já apresenta alguma capacidade de realizar trocas gasosas, embora ainda imaturo7. Alterações na proporção, na quantidade ou na qualidade dos fosfolipídios que compõem o surfactante pulmonar resultam em colapso alveolar, ocasionando a SDR, também conhecida como doença pulmonar das membranas hialinas com consequente atelectasia progressiva, edema, alteração da relação ventilação/perfusão, levando à hipóxia tecidual3,4,6.
O primeiro teste descrito para avaliar o grau de maturidade pulmonar fetal, a relação lecitina/esfingomielina (L/E), é utilizado até os dias atuais, porém não é realizado em vários centros devido ao alto custo e à tecnologia envolvida7. O teste de Clements, um dos primeiros métodos utilizados para predição da maturidade pulmonar, é considerado um teste rápido, com baixo custo e de fácil execução. Entretanto, a ocorrência de resultados falso-negativos, apesar da controvérsia, parece relativamente alta2,7,8. Cunningham et al. acreditam que é necessária uma relação L/E de 4,0 ou mais para produzir um teste de Clements positivo9, enfatizando que as amostras contaminadas com sangue e/ou mecônio, ou mesmo a presença de contaminantes externos (detergentes e líquidos biológicos) nas vidrarias, podem interferir nos resultados do teste1, gerando resultados falso-positivos10. Além disso, um estudo realizado em 2006 com 62 pacientes concluiu que a CCL tem melhor desempenho quanto à especificidade, valor preditivo positivo e acurácia quando comparado ao teste de Clements11.
O método da contagem dos corpos lamelares foi introduzido em 198912 como uma alternativa viável para predição da maturidade pulmonar fetal. Os corpos lamelares são reservatórios de fosfolipídios, componentes do surfactante pulmonar, que são levados ao LA por meio do movimento respiratório fetal. A técnica consiste na contagem dos corpos lamelares em amostras de LA utilizando contadores hematológicos12-14, que têm se tornado cada vez mais comuns nos laboratórios de análises clínicas. A determinação do número de corpos lamelares presentes no LA é realizada utilizando-se o mesmo parâmetro de ajuste para contagem de plaquetas (2-20 fL), pois os corpos lamelares possuem volume médio entre 1,7-7,3 fL, semelhante ao das plaquetas, o que os torna facilmente reconhecíveis pelo aparelho3.
O teste da CCL já foi sugerido por alguns autores como teste de rastreamento de maturidade pulmonar por apresentar sensibilidade, especificidade, VPP e VPN comparáveis aos testes de referência3,7. Além disso, podemos destacar outros benefícios, como o baixo custo, rapidez, fácil execução e necessidade de pequeno volume de amostra; sendo assim, tem sido sugerido como teste de rastreamento na predição da maturidade pulmonar fetal1,7,13-15. Entretanto, a utilização da CCL no Brasil ainda é pouco difundida e há poucas citações na literatura.
O objetivo deste estudo foi comparar o teste de CCL com o teste da PF, considerado um teste de referência, como uma alternativa mais rápida, acessível, barata e específica para determinação da maturidade pulmonar fetal.
Métodos
Foi realizado um estudo transversal analítico e controlado com gestantes do Serviço de Obstetrícia da Maternidade do Hospital Universitário (UFSC) e da Clínica e Maternidade Saint Patrick, Florianópolis (SC), no período de março de 2002 a outubro de 2007. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, (processo 001/2002), estando de acordo com as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa envolvendo Seres Humanos, Resoluções 196/96 e 251/97 do Conselho Nacional de Saúde.
A amostra foi constituída por 74 gestantes internadas no Hospital Universitário (n=52) e na Clínica e Maternidade Saint Patrick (n=22). Dessas, 14 foram excluídas por não obedecerem aos critérios de inclusão desta pesquisa, restando 60 gestantes na amostra. A amostragem foi do tipo intencional, não-probabilística, constituída por todos os casos internados na Enfermaria de Alto Risco no período compreendido pela pesquisa. Estes casos foram encaminhados para avaliação da maturidade pulmonar fetal. As amostras de LA foram obtidas por meio de amniocentese transabdominal ou no momento da cesariana quando consentido pela paciente.
Os critérios de inclusão foram presença de feto vivo, único, idade gestacional entre 24 e 42 semanas, intervalo inferior a 72 horas entre amniocentese, análise do LA e parto. A idade gestacional foi calculada a partir do primeiro dia da última menstruação e confirmada por ultrassonografia obstétrica ou Capurro somático. O método de New Ballard foi utilizado nos casos de idade gestacional inferior a 34 semanas, quando o Capurro é contraindicado.
Os critérios de exclusão foram corioamnionite, contaminação do LA por sangue e/ou mecônio, recém-nascido com desconforto respiratório associado a outras causas que não a imaturidade pulmonar, malformações fetais congênitas maiores, doenças pulmonares ou cardíacas do recém-nascido determinantes de desconforto respiratório e que pudessem interferir na análise dos resultados.
Nos casos de amniocentese transabdominal, o procedimento foi realizado por meio de equipamento da marca GE® modelo RT 4600, com transdutor de tempo real convexo de 3,5MHz. Realizou-se a punção com agulha descartável, com ponta, tipo Quincke 22G (Gauge) da marca BD®, sob visão ultrassonográfica direta. Para aspiração do LA, foi utilizada seringa plástica descartável de 20 mL (Luer Slip) da marca BD Plastipak®, Nos casos em que o LA foi obtido no momento da cesárea, após a histerotomia segmentar, ainda com as membranas íntegras foi puncionada a cavidade amniótica com agulha estéril descartável 21G 1/4, medindo 0,80 x 30 mm, marca BD®, e o LA foi aspirado com seringa de 20 mL, com as mesmas características daquela utilizada na amniocentese. Em ambos os procedimentos foram coletadas duas amostras de LA em punção única, com seringas separadas, contendo cada uma no mínimo 3 mL de LA. Ambas foram fechadas com agulhas descartáveis, encapadas e esterilizadas, envoltas em papel carbono para evitar a exposição à luz, visto que o teste FP de referência (TDxFLM®) é fotossensível, e identificadas para posterior análise.
No laboratório de análises clínicas do Hospital Universitário, foi realizado o teste CCL e o teste FP foi encaminhado para um laboratório externo, que mantinha convênio com a instituição. Este último tinha a finalidade de obter um controle ao teste CCL. Para a CCL, utilizou-se contador hematológico da marca Coulter T-890®, requerendo-se 0,5 mL de LA por amostra processada. As amostras eram misturadas através de delicada inversão e colocadas em tubos plásticos descartáveis de 12 x 75 mm, centrifugadas (Centrífuga Fanem modelo 206-R®) durante três minutos a 2.000 rpm (500 g), com a finalidade de remover restos celulares. O sobrenadante foi colocado em outro tubo plástico, com as mesmas medidas do anterior, e levado ao contador, onde era automaticamente aspirado 0,18 mL (180 µL) para realização da contagem, através do princípio da emissão de pulsos elétricos12. Os parâmetros que o equipamento utilizou para a CCL são similares aos da contagem de plaquetas em amostras de sangue total. Conforme descrito anteriormente, o canal de contagem de plaquetas do equipamento avalia partículas com volume entre 2-20 fL, sendo que os CL possuem volume entre 1,7-7,3 fL. O tempo médio para execução do teste foi de aproximadamente 15 minutos. Foi caracterizada como prova negativa, ou seja, amostra positiva para maturidade pulmonar fetal, aquela cuja contagem dos corpos lamelares foi inferior a 30.000 partículas/µL, e prova positiva aquela cujo resultado foi igual ou superior a 30.000 partículas/µL.
A avaliação da relação surfactante/albumina foi realizada com o equipamento de análise do teste de PF (TDxFLx Abbott®, Abbott Laboratories, Abbott Park, II), conforme recomendações fornecidas pelo fabricante. Foi considerada prova negativa, ou seja, amostra positiva para maturidade pulmonar fetal aquela cujo resultado for inferior a 55 mg/g de albumina, e prova positiva aquela cujo resultado foi igual ou superior a 55 mg/g albumina.
O desempenho dos testes diagnósticos foi comparado com a presença ou ausência da SDR no recém-nascido, considerado o padrão-ouro para estabelecimento de imaturidade pulmonar fetal7. A SDR foi diagnosticada baseando-se nos critérios clínicos, na gasometria arterial, achados radiológicos e suplementação de oxigênio (superior a 48 horas)4. A padronização da avaliação neonatal se manteve porque os neonatologistas da Clínica Saint Patrick são comuns ao Serviço de Neonatologia do Hospital Universitário.
Para a análise estatística, as medidas descritivas empregadas foram média, desvio padrão (DP) e tabelas de contingência. Para comparar as frequências das características perinatais com a classificação de imaturo e maduro segundo o teste CCL e PF, utilizou-se o teste de proporções. A variável de análise (maturidade) foi dicotomizada e foram construídas tabelas de contingência para determinar a associação dos resultados dos testes CCL e PF, com a presença ou não da SDR, utilizando-se o teste χ2 de Pearson para um nível de significância de 5%. As tabelas 2 x 2 foram montadas para cálculos de sensibilidade (S), especificidade (E), valor preditivo positivo (VPP) e valor preditivo negativo (VPN). Para verificar se existe diferença significativa entre as especificidades dos dois testes diagnósticos, utilizou-se o teste de McNemar. Foram considerados significativos valores de p<0,05.
Resultados
A idade das gestantes inclusas no estudo foi de 15 a 43 anos (média de 26,6±6,9 anos). A idade gestacional variou entre 24,3 e 41,6 semanas (média de 34,8±4,56 semanas). Quando utilizada a idade gestacional para predição da imaturidade pulmonar e comparada ao resultado dos testes de CCL e PF, observou-se menor concentração de resultados falso-positivos quando utilizado o teste de CCL.
A Tabela 1 demonstra as características perinatais e a classificação entre maduros e imaturos de acordo com a contagem de corpos lamelares. Foi possível observar que o peso médio encontrado no grupo cujo CCL era inferior 30.000/µL (imaturos) foi de 1.519 g, em contrapartida ao grupo de recém-nascidos com contagem superior a 30.000/µL (maduros). A quantidade de RN com muito baixo peso (<1.500 g) foi significativamente menor no grupo <30.000/µL (p<0,0001). Escores de Apgar <7, tanto no primeiro como no quinto minuto, foram significativamente menores no grupo <30.000/µL quando comparados com o grupo ≥30.000/µL (p=0,0005). A presença de SDR foi significativamente superior no grupo cujo teste apontava resultado compatível com imaturidade (p=0,0002) (Tabela 1).
A Tabela 2 demonstra as características perinatais e a classificação entre maduros e imaturos de acordo com o resultado do teste PF. Observou-se que o peso médio encontrado no grupo classificado como imaturo foi de 1.938 g, sendo que o grupo classificado como maduro foi de 2.989 g. A quantidade de RN com muito baixo peso (<1.500 g) foi significativamente menor no grupo de imaturos (p=0,0104). Os grupos classificados como imaturos e maduros por meio do teste PF não apresentaram diferença significativa nas proporções do escore de Apgar <7 no primeiro minuto (p>0,05). Entretanto, o grupo de recém-nascidos classificados como imaturos apresentou uma maior proporção de escore de Apgar <7 no quinto minuto quando comparado com o grupo classificado como maduro (p=0,0005). A presença de SDR foi significativamente superior no grupo cujo teste apontava resultado compatível com imaturidade (p=0,0002) (Tabelas 2 e 3).
Na Tabela 3, dicotomizou-se a variável de análise, ou seja, a maturidade, sendo construída uma tabela de contingência para demonstrar a associação dos resultados dos testes de CCL e PF, mediante presença ou ausência da SDR. Estes resultados demonstram que, nesta amostra, o teste de CCL e PF apresentaram 100% de especificidade (Tabelas 3 e 4). Pode-se notar que, em 41/60 (68,3%) recém-nascidos, os resultados entre os testes de CCL e PF foram concordantes entre si, sendo ambos positivos para maturidade em 23/60 (38,3%) e para imaturidade em 18/60 (30,0%). Os testes foram discordantes em 19/60 casos (31,7%), sendo que em 15/19 (78,9%) o PF foi negativo para maturidade enquanto o CCL foi positivo, o que demonstra uma maior concordância dos testes na ausência de imaturidade (Tabela 3).
Para a análise dos valores de predição dos métodos de CCL e PF, foram testados, além dos parâmetros de sensibilidade (S) e especificidade (E), o valor preditivo positivo (VPP) e o valor preditivo negativo (VPN). Quando utilizado o teste de McNemar, foi observada uma especificidade estatisticamente superior no teste CCL (73,1%) em relação ao teste PF (51,9%) (p=0,0367) (Tabela 4). O VPN de ambos os testes foi de 100%, sendo que o VPP foi de 36,4% para a CCL e 24,2% para PF, respectivamente (Tabela 4). Ou seja, a probabilidade de o teste ser negativo para imaturidade, sabendo-se que o recém-nascido examinado não é portador de SDR, é maior para o teste CCL do que para a PF. Sendo assim, ambos os testes mostraram-se sensíveis e com alto VPN, mas o CCL parece apresentar uma maior especificidade para o rastreamento da SDR.
Discussão
A prevenção da Síndrome do desconforto respiratório e todas as suas complicações por meio da obtenção de informações precisas e confiáveis a respeito do grau de maturidade pulmonar fetal tem sido a principal finalidade das pesquisas atuais nessa área5,6,14,16,17. O estabelecimento do momento mais oportuno para a realização do parto prematuro terapêutico é realizado diariamente, sendo essencial a disponibilidade de informações precisas sobre a incidência das principais intercorrências neonatais e a idade gestacional em que ocorrem para que o obstetra possa adotar as condutas adequadas.
A magnitude do tema está intimamente relacionada à morbidade e à mortalidade neonatal, fundamentalmente dos recém-nascidos prematuros, que representam cerca de 10 a 15% de todos os neonatos1. Entre as múltiplas complicações da prematuridade, a imaturidade pulmonar, relacionada à produção inadequada de surfactante, representa uma das mais graves, e que compromete com frequência a sobrevida do concepto7.
O diagnóstico clínico da maturidade pulmonar está relacionado com a idade gestacional, sendo que na gestação normal ocorre paralelismo entre o tempo de evolução do feto e a maturidade dos seus vários sistemas orgânicos, entre eles o pulmonar7. A SDR foi diagnosticada em 13,3% (8 casos), sendo que a sua incidência na literatura varia entre 7 e 14%1,7. A maturidade do sistema respiratório fetal ocorre por volta da 35ª semana gestacional, quando as adaptações anatômicas e funcionais permitem ao recém-nascido prematuro sobreviver no ambiente extrauterino3,4. A média da idade gestacional dos recém-nascidos com SDR foi de 30,3 semanas (dados não mostrados). Entretanto, em apenas um caso deste estudo, a SDR ocorreu em um neonato com idade gestacional de 35,5 semanas, sendo que todos os demais casos com idade gestacional superior a 35 semanas foram considerados casos de falso-positivos para imaturidade.
Comparamos os resultados obtidos nos testes de CCL e PF e observamos que ambos os testes foram capazes de selecionar os casos de imaturidade. Estes resultados confirmam com estudos anteriores que relatam uma maior ocorrência de imaturidade pulmonar em recém-nascidos com baixo peso e escores de Apgar <7 no primeiro e quinto minuto6. Nos casos de SDR encontrados em nosso estudo esses escores variaram entre 3 e 7 (média=5), enquanto no quinto minuto variaram entre 5 e 7 (média=6). Adicionalmente, a média do escore de Apgar dos recém-nascidos maduros (sem SDR) foi de 7,8 e 8,8 no primeiro e no quinto minuto, respectivamente, confirmando os resultados deste estudo.
Entre as características perinatais, a ocorrência de SDR é considerada padrão-ouro para a validação dos testes de rastreamento de ocorrência de imaturidade pulmonar fetal7. É importante ressaltar que os oito casos de SDR diagnosticados neste estudo foram previamente classificados como imaturos pelos testes de CCL e PF, sendo que os valores da CCL variaram entre 6.000 e 9.000 partículas/µL e a idade gestacional entre 24 e 35,5 semanas. Estes dados estão em concordância com outros estudos18,19 que definem que valores <10.000 partículas/µL são de alto risco para a ocorrência da SDR1,12.
Quando comparados os resultados obtidos nos dois testes de rastreamento, foram observadas discordâncias entre os grupos cujos neonatos foram classificados como imaturos e maduros de acordo com o teste CCL e PF. Estes dados demonstram que o teste da CCL apresentou uma capacidade melhor na discriminação dos fetos que realmente estavam imaturos, quando comparados ao teste referência (PF). Um número maior de casos foi classificado de forma incorreta como imaturos por meio do teste PF, o que caracteriza uma especificidade menor deste teste quando comparado à CCL.
A sensibilidade, ou seja, a capacidade de diagnosticar doença (SDR) foi de 100%, e a especificidade, ou seja, a capacidade de excluir a doença, foi de 73,1%. O VPP, também conhecido como sensibilidade diagnóstica, foi de 36,4%, sendo concordante com um estudo de Dalence et al.1, que demonstrou em uma população de 130 pacientes a ocorrência de VPP de 28% para o CCL. O VPN, também conhecido como especificidade diagnóstica, foi de 100%, e isso significa que quando o teste apresentou resultado positivo para maturidade, a doença realmente não ocorreu, ou seja, trata-se de um resultado altamente expressivo na identificação de fetos maduros.
Em 2001, um artigo científico multicêntrico concluiu que os resultados fornecidos pelo teste de CCL são semelhantes aos métodos tradicionais de análise dos fosfolipídios, ressaltando que a vantagem mais atrativa do teste é o alto VPN. Este estudo também concluiu que, quando o resultado do teste é compatível com imaturidade, a chance de ocorrência de SDR é alta, estimada em 45,5% dos casos20.
Os dados obtidos neste estudo, em concordância com outros autores12,13, demonstram que o teste da CCL apresenta sensibilidade, especificidade, VPP e VPN comparáveis aos testes de referência5,16,21-24, associado com a facilidade e rapidez na execução e baixo custo, podendo ser realizado rotineiramente na grande maioria dos centros e hospitais que disponham de um laboratório de análises clínicas com hematologia automatizada.
Recebido 9/6/09
Aceito com modificações 19/3/10
Departamento de Tocoginecologia da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC Florianópolis (SC), Brasil.